Bairro do Recife, Marco Zero, principal praça de eventos da capital pernambucana. É de lá que surgem os primeiros acordes para a folia de Momo. O cenário não estaria completo sem a presença de Lenine - que, apesar de residir no Rio de Janeiro desde 1980, não deixa de lado os elos com a sua terra natal. Dentre eles, está o Sport Club do Recife. E mesmo mergulhado na folia carnavalesca, o cantor e compositor fez questão de mostrar que o Leão funciona como uma segunda paixão.
A relação com o rubro-negro pernambucano nasceu quando ainda era criança, porém não contou com nenhuma espécie de influência familiar. O pai, seu Geraldo, era Santa Cruz convicto, enquanto a mãe, dona Dayse, preferia as cores do Náutico. Habilidoso como um bom camisa 10, Lenine “driblou” os palpites dos pais e passou a adotar o vermelho e preto do Sport. Opção que, de acordo com o músico, foi feita ainda no berço.
- Eu sou rubro-negro desde que me entendo por gente. Meu pai era tricolor, minha mãe era Náutico. Para não criar problema com nenhum, virei rubro-negro. Mas é algo que não existe uma data.
Porém, mesmo afirmando que sempre torceu pelo Sport, definitivamente Lenine não faz o estilo fanático. Decorar escalação ou enlouquecer em dias de jogos não faz parte da sua rotina. Contudo, assim como a grande maioria dos rubro-negros, o cantor guarda na memória a maior conquista do clube: o Campeonato Brasileiro de 1987, que ainda hoje rende uma disputa com o Flamengo, que também se intitula campeão. Porém, para o pernambucano, não existem dúvidas: o troféu pertence ao Leão da Ilha.
- Como rubro-negro pernambucano, eu sou o campeão Brasileiro de 87. De fato e de direito. Aquele negócio de Módulo Verde e Amarelo não existe. O Sport foi o campeão.
Naquele ano, o regulamento previa um quadrangular entre Flamengo, Internacional (do Módulo Verde) e Sport e Guarani (Módulo Amarelo). No entanto, o time carioca e o gaúcho se recusaram a entrar em campo, e a CBF determinou que o Leão e o Bugre fizessem a final (veja o vídeo ao lado).
A final do campeonato não sai da sua cabeça. Apesar de não ter comparecido à Ilha do Retiro, Lenine lembra bem do grito de guerra da torcida, da euforia dos pernambucanos. Porém, a partida que marca sua memoria não é o duelo contra o Guarani, do dia 7 de fevereiro de 1988, quando o Leão saiu vitorioso por 1 a 0. Em sua imaginação, o título foi conquistado sobre o poderoso Flamengo.
A imaginação do músico poderia ser descrita da seguinte forma: em jogo difícil, o Sport abriu o placar com Robertinho, logo aos 15 minutos do primeiro tempo. Porém, com um time repleto de estrelas, como Andrade, Zico, Adílio e Bebeto, o Flamengo não demoraria para reagir. E, aos 29 do primeiro tempo, Leandro, aproveitando uma falha da zaga pernambucana, empatou.
Com o gol, o Sport lançou-se para o ataque. Apoiado por sua torcida, o Leão da Ilha recuperou a vantagem aos cinco minutos do segundo tempo. Após cobrança de escanteio, Ribamar cabeceou, Zé Carlos salvou, mas Neco mandou para o fundo das redes.
A partir daí, o que se viu foi um estrondoso domínio do Flamengo. Contando com o talento de Zico, os cariocas jogavam o Sport contra a parede. No entanto, aos 30, em ótimo contra-ataque, Ribamar avançou pela direita, adiantou muito a bola, mas conseguiu cruzar antes que ela saísse pela linha de fundo, para Nando, livre de marcação, sacramentar o titulo do Sport. Com o fim do jogo, a festa tomou conta da capital pernambucana. Era o primeiro título nacional da história do clube.
No entanto, a disputa entre as equipes aconteceu apenas na imaginação de Lenine. O jogo nunca ocorreu, e Sport e Flamengo disputaram o troféu nos tribunais.
- Esse jogo (Sport e Flamengo) não sai da minha cabeça. Sonhei com ele várias vezes, e no meu sonho, ele acaba 3 a 1 para o Sport.
O duelo, porém, não é fruto de um delírio artístico do cantor. Na realidade, Lenine usou toda versatilidade que costuma conduzir suas obras para recriar, em seus pensamentos, uma rivalidade entre as equipes que já completa 30 anos. Curiosamente, o panorama era o mesmo. De um lado, o Flamengo e suas estrelas. Do outro, o desacreditado time do Sport. Três décadas depois, as semifinais do Campeonato Brasileiro de 1982 ainda geram revolta nele (confira o vídeo ao lado).
- O que aconteceu em 1982 não existe. Eu lembro que o locutor da Globo falava que a bola não tinha saído, e o juiz invalidou o gol. Pior que, por estar chegando ao Rio e por o Flamengo ser rubro-negro, eu tinha uma simpatia. Mas aquela situação mudou tudo.
- O que aconteceu em 1982 não existe. Eu lembro que o locutor da Globo falava que a bola não tinha saído, e o juiz invalidou o gol. Pior que, por estar chegando ao Rio e por o Flamengo ser rubro-negro, eu tinha uma simpatia. Mas aquela situação mudou tudo.
Após perder para o Flamengo, na primeira partida, por 2 a 0, o Sport tinha que vencer por dois gols de diferença para chegar às finais. Em um jogo tenso, o Leão da Ilha abriu o placar, com Betinho aproveitando uma falha grotesca de Mozer. Mas não demorou muito para que o Flamengo empatasse. Após receber lançamento, Leandro, com um lindo toque, encobriu País, para deixar tudo igual.
Mas o Sport era valente. Empurrado por sua torcida, os pernambucanos chegaram ao segundo gol. Aos cinco minutos do segundo tempo, Edson aproveitou um rebote e mandou a bola para o fundo das redes. Só faltava um gol. Ele até aconteceu, mas foi polemicamente invalidado. Após ótimo contra-ataque, Bebeto foi até a linha de fundo e cruzou para Edson marcar o gol que classificaria o Sport. No entanto, o árbitro Oscar Scolfaro invalidou o gol, afirmando que a bola já teria saído pela linha de fundo.
Para Lenine, a injustiça poderia ter sido corrigida cinco anos depois. Mas o Flamengo decidiu não enfrentar o Sport, por alegar que o clube pernambucano, que disputara o Módulo Amarelo, teria enfrentado adversários menos gabaritados.
- Aquilo em 82 foi muito feio. Em 1987, nós poderíamos ter dado o troco, mas o Flamengo não compareceu. Mas essas situações me marcaram muito como torcedor.
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