Ganso é do São Paulo pelos próximos cinco anos. Foram 32 dias de novela
desde que a primeira proposta foi oficializada pelo meia. Uma novela com
reviravoltas, romances, separações, brigas e final feliz para o Tricolor e o
jogador, que sempre torceu pelo sucesso da negociação. No começo da madrugada
desta sexta-feira, enfim, o clube acertou a contratação junto ao Santos, que
vai receber R$ 23,9 milhões, um pouco mais do que os 45% dos direitos
econômicos que possuía.
O meia foi à Vila Belmiro e assinou a rescisão e o novo contrato, pouco
antes da 1h desta sexta. Cerca de dez minutos depois o nome e a foto dele já não
constavam mais no site oficial do Santos, na relação do elenco principal.
Ganso posa com a camisa do São Paulo (Foto: Rubens Chiri /
saopaulofc.net)
Os dois clubes, porém, só confirmaram a notícia em suas respectivas
páginas na internet por volta das 2h20. A nota oficial do Santos é extensa -
tem 13 tópicos explicando a negociação, sendo o principal problema a pendência
judicial com a DIS (veja
abaixo a íntegra da nota, no fim da matéria).
- Conquistei e construí minha história aqui. Tenho a consciência de que
fiz meu melhor. Saio com a sensação de dever cumprido – disse Ganso, às 2h40,
ao deixar a Vila Belmiro.
- Todo o esforço valeu a pena – emendou Adalberto Baptista, diretor
de futebol do São Paulo, ao lado do meia.
O armador deixa a Vila Belmiro após assinar a rescisão com o Santos e o
compromisso com o Tricolor
(Foto: Marcelo Hazan / Globoesporte.com)
(Foto: Marcelo Hazan / Globoesporte.com)
Na nova divisão, o Tricolor, que desembolsou R$ 16,4 milhões, terá 32%
dos direitos de Ganso, enquanto o DIS, que injetou R$ 7,5 milhões para
viabilizar a transferência, amplia sua porcentagem sobre o atleta de 55% para
68%.
Em um momento da negociação, fiquei preocupado, de
tão cansativa que ela estava, mas nunca desisti. Tive proposta do Santos, do
Grêmio e do Flamengo, mas o São Paulo foi o que mais mexeu com meu
sentimento"
Ganso
No futuro, se o São Paulo vender o jogador por um valor superior, o
clube da Baixada ainda terá direito a 5% do lucro obtido pelo rival. Na quarta, pela manhã, o
Santos aceitou a nova proposta, mas avisou que não liberaria Ganso enquanto as
pendências jurídicas com a DIS não fossem resolvidas. Ocorreram novas reuniões, inclusive com a participação do jogador, que
faltou três dias seguidos a sessões de fisioterapia no CT Rei Pelé e exigiu uma
definição das partes. À noite, na Vila Belmiro, o martelo foi batido. Antes,
porém, Ganso já havia posado para fotos e gravado um depoimento para a equipe
do site oficial do Morumbi.
- O que mais pesou foi o histórico do clube, com sua história de
grandeza, conquistas e ídolos. Muitas pessoas conversaram comigo, como o Pita
(ex-jogador que trocou o Santos pelo Tricolor em 1984), que mostrou um pouco
mais da importância do São Paulo no futebol mundial - disse Ganso.
- Em determinado momento da negociação, fiquei preocupado, de tão
cansativa que ela estava, mas nunca desisti. Foi tudo feito de forma consciente
e da maneira correta e hoje posso dizer que estou muito feliz por acertar com o
São Paulo. Durante todo esse tempo tive proposta do Santos, do Grêmio e do
Flamengo, que são todos grandes clubes, mas o São Paulo foi o que mais mexeu
com meu sentimento. O clube me deixou com muita vontade de jogar e representar
bem essa camisa, retribuindo também todo o carinho que venho recebendo dos
torcedores. Estou muito feliz. Uma alegria muito grande. É um sentimento
único poder representar esse grande clube de nosso país - emendou o meia.
O primeiro acordo verbal
entre as partes foi fechado na noite da última sexta-feira,quando
São Paulo e DIS se reuniram, acertaram uma composição financeira e informaram
ao Santos que pagariam o valor exigido. Nesse mesmo dia, à tarde, Paulo
Henrique conversou com o presidente Juvenal Juvêncio por telefone e reiterou
seu desejo de atuar no Morumbi.Porém, na última segunda,
para surpresa de todos e desespero de Ganso, o Comitê de Gestão que administra
o Santos mudou de ideia e disse ter recusado a oferta, despertando
uma série de versões conflitantes sobre o motivo de o acordo de sexta não ter
sido formalizado.
Ganso exibe com orgulho a camisa do São
Paulo
(Foto: reprodução)
(Foto: reprodução)
O Peixe afirmou que o documento não atendia aos interesses do clube. O
grande problema foi o desejo de que o DIS aceitasse retirar as pendências
judiciais que tem com o Santos, relativas às vendas do volante Wesley e do
atacante André para Werder Bremen e Dínamo de Kiev, respectivamente, em 2010. A
exigência revoltou os investidores, que recentemente ganharam na Justiça o
direito de penhora de 20% das receitas do clube. No acerto, ficou decidido que,
em vez de dinheiro, o Santos passaria a ter o CT Meninos da Vila penhorado.
Outro fator divergente era a forma de pagamento. O Santos gostaria de
receber à vista, mas o São Paulo se propôs a pagar R$ 12 milhões imediatamente
e os R$ 11,8 milhões restantes até o fim de janeiro de 2013 - isso, claro, já
incluindo aí o montante que seria bancado pela DIS, já que o investimento total
do Tricolor seria mesmo de R$ 16,4 milhões..
Na terça-feira, houve o segundo acerto. Juvenal e Adalberto Baptista,
diretor de futebol do São Paulo, se encontraram com Luis Alvaro pela manhã e
resolveram as pendências entre eles. O Tricolor topou os termos exigidos e enviou
a proposta com pagamento à vista.
Meia jogou
ao lado do Tricolor paulista
A vontade de Ganso foi determinante. Primeiro ele demonstrou a Laor toda
sua irritação pela recusa da oferta. Depois, em contato com Vanderlei
Luxemburgo, reafirmou que queria jogar no São Paulo, o que provocou a
desistência do Grêmio de contratá-lo. O desejo de Laor era ver Ganso na equipe gaúcha, para que ele não
atuasse num rival estadual, mas esbarrou na resistência do atleta e do DIS. É
que Delcir Sonda, presidente do grupo, é parceiro e torcedor do Internacional,
e não admite ver seus clientes no Olímpico. Por isso, o DIS abriu mão
de sua parte na transferência (55% do valor), ajudou o São Paulo
financeiramente e acabou ampliando sua porcentagem sobre Ganso. O contrato terá duração de cinco anos.
Os
capítulos da novela Ganso
No dia 21 de agosto, o clube do Morumbi ofereceu R$ 23 milhões, mas para
adquirir os 100% do atleta. Seriam R$ 10,7 milhões ao Santos e o restante para
a DIS. A oferta seguinte superou os R$ 28 milhões (R$ 12,6 mi para o Peixe),
mas Laor emitiu uma nota, afirmando que só negociaria o jogador pelo valor
integral da multa: R$ 53 milhões.
Na última quarta-feira, pela primeira vez, o presidente santista abaixou
a guarda e admitiu receber só os 45% que lhe cabiam. Foi então que o Grêmio
surgiu com força e sinalizou a Laor que estava disposto a pagar.
Mas Ganso deixou claro aos envolvidos sua preferência desde o início.
Tanto que afirmou publicamente que “seria um prazer jogar no São Paulo", e
por diversas vezes pediu a Adalberto Baptista que fechasse a contratação, além
de ter recusado todas as ofertas de aumento salarial feitas pelo Santos, o que
irritou Luis Alvaro. Ele vê no Tricolor a melhor alternativa para recuperar seu
futebol e voltar a ser convocado por Mano Menezes. O meia teve o aval do médico
da seleção brasileira, José Luiz Runco, que foi consultado pelo Tricolor e
informou que ele não tem nenhum problema crônico. O fisioterapeuta do São Paulo
é Luiz Rosan, que trabalha também na Seleção e conhece bem o jogador.
A novela teve diversos personagens coadjuvantes. Primeiro foi Ney
Franco, que, animado com a possibilidade de ter o meia, admitiu, ainda no dia
21 de agosto, já ter desenhado um campinho com Ganso em seu time. A frase
irritou o colega Muricy Ramalho, que sempre pediu publicamente a permanência do
jogador. Ney se viu obrigado a pedir desculpas.
Na última quinta-feira, o
diretor de futebol do Grêmio, Paulo Pelaipe, afirmou que havia chegado a um
"denominador comum" com todas as partes
da negociação e que a contratação de Ganso era uma tendência. A torcida se
empolgou, em vão.
A relação entre São Paulo e Santos chegou a ficar estremecida durante a
negociação. No dia 30 de agosto, pessoas ligadas ao clube da Baixada espalharam
a informação de que o rival havia desistido da contratação de Ganso. Como
resposta, o Tricolor enviou uma nova oferta e o jogador se irritou com a
suposta mentira dos alvinegros. Em seguida, Laor reclamou aliciamento e ameaçou
denunciar o São Paulo na Fifa. Adalberto respondeu com panos quentes. Agora,
com a contratação definida, os dirigentes também voltaram às boas.
No São Paulo, Ganso usará a camisa 8, que pertence a Fabrício. O volante
teve uma lesão séria no joelho e só voltará a jogar em 2013. Com cinco jogos
disputados (o limite são seis), ele poderá ser inscrito no Campeonato
Brasileiro até sexta-feira. Na Sul-Americana, Ganso vai entrar no lugar de
algum dos 25 relacionados antes da próxima fase.
Veja
abaixo a íntegra da nota emitida pelo Santos logo após o desfecho da
negociação:
Em
respeito a seus conselheiros, associados e torcedores, o Santos FC vem a
público anunciar que Paulo Henrique Ganso não é mais atleta do Clube.
Considerando
que:
1. O
Santos FC fez diversas tentativas para manter o atleta Paulo Henrique Ganso na
Vila Belmiro, incluindo proposta de Plano de Carreira e ofertas de aumento em
sua remuneração, todas recusadas pelo jogador, conforme documentos em posse da
direção do Clube;
2. O
atleta, inclusive por meio de seus procuradores, manifestou inequívoco desejo
de deixar de vestir a nossa camisa, culminando com sua inadvertida ausência do
CT Rei Pelé desde o dia 14 de setembro passado, à revelia da Comissão Técnica,
o que levou o Clube a descontar os dias de falta ao trabalho;
3- O São
Paulo FC apresentou sucessivas propostas ao Santos FC para aquisição dos
direitos federativos do atleta, insistentemente rechaçadas, culminando com
oferta de R$ 23.940.000,00 à vista, valor correspondente à participação em
direitos econômicos que o Santos teria para uma transação no mercado nacional;
4. O
Santos FC está acionando a empresa DIS no Judiciário, com respaldo em parecer
de jurista gabaritado, onde é discutido contrato lesivo a direitos do Clube,
que envolvem a cessão de 25% dos direitos econômicos de Paulo Henrique Ganso,
Wesley, André e outros quatro atletas;
5. A DIS
ajuizou processo de execução contra o Santos FC, em que pretende receber R$ 5,1
milhões (conforme atualização feita por seus advogados), por força da
negociação do atleta Wesley ao Werder Bremen (Alemanha), especificamente pelos
25% dos direitos econômicos abrangidos no contrato cuja ilegalidade está sendo
discutida no Judiciário (item 4 acima);
6. A ação
de execução promovida pela DIS foi garantida por imóvel oferecido à penhora
pelo Santos FC – CT Meninos da Vila -, para viabilizar a discussão do mérito
das ações até um final pronunciamento do mérito pelo Judiciário;
7. A DIS
insurgiu-se contra a penhora por meio de recurso de agravo de instrumento
dirigido ao Tribunal de Justiça, obtendo decisão favorável que bloqueou parte
dos créditos do Santos FC junto a patrocinadores e à Rede Globo de Televisão;
8. A
penhora de crédito é extremamente nociva ao fluxo de caixa do Clube, ao
contrário da garantia imobiliária que permitiria uma discussão do mérito sem
impacto financeiro negativo;
9. Por
fim, o Santos FC espera que o Judiciário reconheça a lesividade do contrato, em
processo que se tramitará sem traumas ao Clube, vislumbrando, portanto, um
desfecho favorável à nossa agremiação;
10. O
Santos FC, sobretudo ante ao inequívoco desejo do atleta de não mais vestir
nossa camisa, concordou em transferir o Paulo Henrique Ganso ao São Paulo FC
pelo valor líquido de R$ 23.940.000,00, mais percentual sobre lucro em venda
futura, desde que a DIS aceitasse desistir imediatamente da penhora de nossos
créditos;
11.
Conforme repercutido na imprensa, o impasse realmente persistiu ao longo dos
últimos dias, até que a DIS concordou em substituir a penhora mencionada no
item 7 acima;
12. O
Santos FC, conforme todos os esclarecimentos acima prestados, informa a seus
associados e à sua torcida que a cessão do atleta acabou formalizada após desgastante
processo negocial, em que se procurou a obtenção do melhor cenário possível a
nosso Clube;
13. A
direção do Santos FC esclarece que não pretende e que jamais permitirá qualquer
dano a seu patrimônio, registrando que a penhora no CT Meninos da Vila configura
mera garantia, necessária a viabilizar a defesa de nossos interesses, de forma
a invalidar contrato já considerado lesivo por nosso Conselho Deliberativo;
13. O
Santos FC considera virada esta página de sua inigualável e Centenária
história, colocando definitivamente um ponto final nesse episódio.
Varjota Esportes - Ce. / Globoesporte
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