O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, confirmou nesta quarta-feira que Orlando Silva não é mais ministro do Esporte. O cargo passará a ser ocupado, interinamente, pelo secretário executivo do ministério, Waldemar de Souza.
Carvalho afirmou que a "tendência" é de que o ministério fique com o PC do B e de que haja uma solução de "interinidade", para que depois assuma um sucessor definitivo.
De acordo com Carvalho, a abertura de inquérito pelo Supremo Tribunal Federal para investigar Orlando Silva foi um "fator determinante" para que a presidente Dilma Rousseff decidisse tirá-lo do comando do Ministério do Esporte.
- Comuniquei ao PC do B que era preciso dar um passo. O Orlando compreendeu a situação. A abertura de inquérito pelo Supremo foi um fato determinante para mudar a situação - disse.
Orlando Silva deve se reunir no final da tarde desta quarta com Dilma no Palácio do Planalto para formalizar a demissão. Segundo Carvalho, Orlando Silva "teve maturidade" para "compreender" a decisão do governo.
- O PC do B disse que respeita a decisão da presidente. Sabe que a decisão (do sucessor) é da presidente. E o ministro Orlando foi de uma maturidade política muito grande - afirmou.
De acordo com o ministro da Secretaria-Geral, ainda não foi definido o "mecanismo" que será utilizado para formalizar a saíde de Orlando Silva - se ele entregará carta de renúncia ou se Dilma irá demiti-lo.
Gilberto Carvalho afirmou ainda que Dilma ainda não avaliou os nomes prováveis à sucessão de Silva. Segundo ele, a praxe é o partido "não apresentar indicados" para que a presidente tenha liberdade de indicar um nome.
O ministro disse ainda que, apesar de aceitar a decisão do governo, o PC do B deu sinais de que irá "fazer a defesa de Orlando Silva até o fim".
Ele contou que reforçou na reunião desta quarta com Orlando Silva e cúpula do PC do B que a relação do governo com o partido é capaz de superar a crise.
- Nossa relação com o PC do B tem maturidade capaz de superar qualquer obstáculo - disse.
Entenda a crise
A crise no Ministério do Esporte começou há onze dias com a publicação pela revista "Veja" de denúncias contra o ministro Orlando Silva pelo policial militar de Brasília, João Dias Ferreira. O PM disse à revista que Orlando Silva seria mentor e beneficiário de um esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo, que estimula a prática desportiva de crianças carentes. Segundo Dias, o grupo que comandava o esquema cobrava uma propina de até 20% das entidades que assinavam os convênios do programa. Um funcionário atual de Dias, Célio Soares Pereira, que teria participado do esquema chegou a afirmar à revista ter entregue dinheiro diretamente ao ministro.
Após a publicação, diversos veículos de imprensa denunciaram uma série de irregularidades nos convênios do programa, que beneficiariam principalmente o PC do B, partido do agora ex-ministro. O partido negou as irregularidades e afirmou que os convênios também foram realizados com prefeituras e estados de outros partidos. No último fim de semana, a Veja trouxe a transcrição de uma gravação que teria sido feita pelo PM em uma reunião com subordinados de Orlando em que teria sido discutido como fraudar um documento para que o ministério pudesse recuar em uma cobrança feita ao policial. O ministério abriu sindicância para investigar os dois servidores que teriam participado da reunião.
Orlando Silva manteve o mesmo discurso de defesa desde o princípio, quando concedeu uma coletiva em Guadalajara, no México, após a publicação da reportagem. O ministro negou qualquer irregularidade e participação em qualquer esquema e disse que só encontrou Dias uma única vez, à época da assinatura de dois convênios com entidades comandadas pelo PM. Segundo Orlando Silva, as denúncias feitas pelo policial seriam uma reação à cobrança do ministério de devolução dos recursos liberados para as ONGs de Dias. A Advocacia-Geral da União (AGU) chegou a impetrar, a pedido do ministro, queixa-crime por calúnia contra os denunciantes.
Com pequenas variações, foi esse discurso que o ministro fez em uma coletiva ao chegar ao Brasil e em audiências na Câmara dos Deputados e no Senado Federal na semana passada. Isso não impediu, no entanto, que a força política do ministro fosse diminuindo. Na sexta-feira, Orlando se reuniu com a presidente Dilma e recebeu apoio, mas as novas denúncias publicadas no final de semana voltaram a atingir o ministro. Diante do impacto negativo na imagem do governo, já afetado pela saída de cinco ministros - quatro em meio a denúncias - desde o começo do ano, Orlando Silva foi levado a deixar o cargo.
Início como presidente da UNE
Orlando Silva, de 40 anos, é natural de Salvador e começou a vida política no movimento estudantil. Foi presidente da União Nacional dos Estudantes na década de 90 e No governo Lula, atuou desde o começo no Ministério do Esporte. Foi secretário nacional do Esporte e do Esporte Educacional antes de assumir a secretária-executiva, segundo cargo mais importante da pasta. Em março de 2006 assumiu o ministério com a saída do atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.
A crise causada pelas irregularidades nos convênios do programa Segundo Tempo não é a primeira polêmica do período de Orlando à frente do ministério. Era ele o titular da pasta na realização dos Jogos Panamericanos de 2007, cujos gastos foram 10 vezes maiores que o previsto originalmente. Orlando sempre alegou que os gastos foram necessários e garantiram a vinda das Olimpíadas de 2016 ao Brasil. Já em 2008, o ministro devolveu mais de R$ 30 mil reais aos cofres públicos durante a investigação de possíveis irregularidades no uso dos chamados cartões corporativos. O ministro havia comprado uma tapioca usando o cartão e, diante da suspeita, optou por devolver aos cofres públicos todos os gastos feitos com o cartão no período. À época, Orlando Silva alegou que havia feito confusão ao utilizar o cartão.
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